sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Pasquale Cipro Neto: "Acordo ortográfico é inútil e desnecessário"

Notícia Lusa - São Paulo, 02-10-2008 16:22:39 [ ligação ]

O acordo ortográfico entre os países lusófonos é "inútil e desnecessário" e não terá qualquer influência no papel da língua portuguesa em nível internacional, disse nesta quinta-feira à Lusa Pasquale Cipro Neto, o mais conceituado professor de português do Brasil.(*)

Salientando que a implantação do acordo ortográfico supera "de longe" os eventuais benefícios que dele podem advir, Pasquale Cipro Neto defendeu que o documento não terá "qualquer influência sobre o papel da língua portuguesa no cenário internacional".

"Certamente não é pelos pês e cês que Portugal emprega em 'adoptar' e 'direcção' ou pelas outras minidiferenças entre a grafia brasileira e a lusitana que a Língua Portuguesa não tem projeção no mundo, se é que de fato não tem", salientou.

O professor disse igualmente que o acordo ortográfico entre os países de Língua Portuguesa é "uma grande bobagem, inútil, desnecessário".

"Parece que os responsáveis por ele se esqueceram do que aconteceu com a reforma de 1971, que até hoje não foi totalmente absorvida. Basta ver os cardápios ou 'ementas', em que ainda se lê 'môlho', por exemplo", afirmou.

"Não ficarei surpreso de Portugal não o colocar em prática. Aliás, sonho com isso. Seria maravilhoso se isso ocorresse", realçou.

No Brasil, a reforma ortográfica foi promulgada segunda-feira, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, numa cerimônia solene na sede da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro.

O acordo ortográfico entrará em vigor no Brasil a partir de janeiro de 2009, inicialmente nos documentos oficiais.

As mudanças serão adotadas de forma gradual, nos livros escolares, em 2010, sendo obrigatórias a partir de 2012.

Professor desde 1975, Cipro Neto é colunista de diversos jornais brasileiros, autor de livros e apresentador do programa "Nossa Língua Portuguesa", transmitido por emissoras de rádio e de televisão.


(*)Declaração em destaque também no Público de 3/09/2008, pág .17 (ligação não disponível)


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A Petição Contra o Acordo Ortográfico continua aberta e disponível para assinatura.

Assine-a em www.ipetitions.com/petition/manifestolinguaportuguesa.
Enquanto há Língua, há esperança.

12 comentários:

Anónimo disse...

Off topic (ou nem por isso).

Em desacordo.wikidot.com também se tenta fazer alguma coisa contra esta coisa "inútil e desnecessária" (e vergonhosa, já agora).

Anónimo disse...

"Wikipédia vai adotar Acordo Ortográfico"

fonte: http://diario.iol.pt/tecnologia/internet-wikipedia-acordo-lingua-tecnologia/996408-4069.html

Anónimo disse...

Ultimamente tenho sentido vergonha de ser português, sinto-me mal ao ver como a nova pátria esta a "evoluir", ou a involuir.
Desde quando um país que descobriu outro e deu vida aos seres humanos que lá viviam, tem que, passado alguns séculos, adoptar a maneira de escrever e "falar" deles ?? Sim porque o Magnífico acordo ortográfico obriga-nos a escrever da forma como eles falam !!
Meu Deus, como eu gostaria de escrever Farmácia com PH, ai sim era a nossa patria a explodir por entre as simples mas sentidas letras que os nossos antepassados batalharam tanto e derramaram tanto sangue para mostrar a este mundo que eramos Portugueses e não uns quaisqueres.
Eu irei morrer a escrever PORTUGUÊS e não brasileiro!!

musicaquatica disse...

Subscrevo o comentário de scheiker, muito embora discorde da "vergonha" em ser português. Não podemos permitir que uns quaisquer pseudo-governantes iluminados destruam o orgulho que temos nas nossas raízes, nem tampouco que o sentimento de vergonha, que só a eles pertence, sirva para fomentar o descontentamento e desunião que por cá vai crescendo (em seu benefício...).
Parabéns aos autores do blogue e a todos os que contribuem para que a mensagem passe.
Lutemos pela nossa identidade!

Anónimo disse...

Vejo alguns portugueses reclamando do acordo como se fosse culpa de nós brasileiros. Como se nosso governo tivesse ido aí e feito o que o Marquês de Pombal fez. Como se o povo brasileiro tivesse votado a favor da reforma em algum plebiscito. Como se remover TODOS os C's e P's fosse a norma aqui no Brasil, ao contrário do que é o padrão hoje, em que palavras como DETECTAR, RECEPÇÃO, RESPECTIVO, INFECTAR ainda o mantêm. Como se nós escrevêssemos VÔO sem o acento circunflexo. Como se nós escrevêssemos ASSEMBLÉIA sem acento agudo. Como se nós escrevêssemos MICRO-ONDAS ao invés de MICROONDAS. Como se nós escrevêssemos ANTISSEMITA ao invés de ANTI-SEMITA. Como se nós escrevêssemos LOUVÁMOS ao invés de LOUVAMOS. E por aí vai...

Porém, o mais interessante de tudo isso foi encontrar algumas críticas sobre o acordo ortográfico em alguns blogues de um site português (sapo.pt acho), onde os autores criticavam o acordo simulando um dialeto brasileiro. Como se a reforma ortográfica obrigasse a utilizar regionalismos, gírias, expressões idiomáticas, mudar o sentido das palavras e o caralho a quatro.

Acordem! Dizer que vão escrever "brasileiro" porque vocês identificaram uma ou outra regra que já existe na língua portuguesa escrita no Brasil é bobeira. O acordo, pelo que eu saiba, foi feito em conjunto entre a Academia Brasileira de Letras e a Academia das Ciências de Lisboa e, a não ser que o povo da ACL seja um bando de japonesa submissa, evidentemente que os dois lados tiveram que ceder. Quem tem mais motivos pra reclamar são os africanos!

Sou a favor duma reforma ortográfica sim, mas não essa atual, pois ela é idiota, descomplica aqui pra complicar ali. Uma que de fato simplificasse a língua e que não fosse dependente de qualquer instituição, seja CPLP ou qualquer outra, somente dependesse da vontade do povo e da soberania do país. Que, de preferência, pudesse integrar países onde existe realmente uma influência sócio-cultural, e não outros países que estão lá do outro lado do Atlântico, que devido a essa distância nada ou pouco se sabe, nos afeta e nos interessa.

obs: não tenho nada contra portugueses ou africanos. Nada me importa onde você nasceu, me importa quem você é. Mas se em algum ponto alguém se sentir ofendido, peço desculpas antecipadamente.

felpo disse...

Caro Astrogenibaldo,
Um dia vai gostar de descobrir a cultura portuguesa.

felpo disse...

Continuação

Caro astrogenibaldo,
Não seria mal, também, saber a verdadeira história da diferenciação do português falado no Brasil.

O grande problema dos dias de hoje é não termos, se quer, tempo para saber o que nos interessa.

Anónimo disse...

Simplificar a Língua, simplificar a Língua
Alguma vez se simplifica um trabalho de arte, uma pintura, uma escultura - o nosso corpo simplifica-se, o céu simplifica-se? O mar simplifica-se?

A Língua não é como uma árvore para podar todos os anos, nem é nada que se simplifique.

Tirar os tempos verbais todos e ficarmos como os piratas, também seria simplificar.
E não podermos exprimir nada a não ser comércio. Também sou a favor de uma reforma ao contrário. Quero os ph e os y! Devemos aproximar a língua das suas origens, e deixá-la indo enriquecer-se com novas palavras e novo entendimento - em vez de deitar tudo a perder.
Por cada simplificação que se faz, é um mundo que se perde.
Um mundo do espírito, do pensamento.

Enfim, contem comigo na resistência. Mas espero que me apoiem também.

Cumprimentos

felpo disse...

Em tudo há um começo e um fim. Será que a língua portuguesa chegou ao fim? Não me parece. Então se está viva, para quê escolher maneiras de falar ou de escrever que não correspondem à expressão dessa vida. Casos há na história em que povos foram proibidos de falar ou escrever conforme a sua cultura.
Porquê os portugueses voluntariamente abdicarem do seu modo de se exprimir?
Que poder tão forte pode comandar um suicídio de um veículo de uma cultura?
Não tenhamos ilusões, o que nos separa do Brasil não é só a diferença de dimensão dos países, nem o número da população que neles habita.

Piga disse...

Deixem a lingua que ela estás de boa saúde. Que o português brasileiro seja o que é e o português de Portugal continue a sua história. Não ficaram independentes desde 1820 ? O que é que querem mais ? Começo por lembrar que o que se está a fazer em Portugal é caso único de corrupção: a última reforma da lingua inglesa é do sec. XVIII. Porque esta obsessão de fazer adaptar a ortografia à fonética que parece só ser muito importante aqui em Portugal ? E em Espanha como é ? e em França ? Só nós ? Vergonhoso fruto da conspiração maçonaria anti patriótica socialistoide ? Apenas quero exprimir o meu desgosto por viver num país onde um governo (de maioria, azar o nosso)prepotente, de minima estatura moral e cultural negoceia interesses desconhecidos e estranhos ao povo e nas suas costas, fazendo e ratificando acordos mesmo à revelia das vozes autorizadas que se levantaram contra a forma como se está a realizar esta vergonha. Amo o Brasil país irmão e arrepia-me saber no entanto que estão a querer forçar este acordo maugrado o empobrecimento linguístico que pode vir a acarretar: todos ficaremos a perder. Mesmo os outros povos de lingua e expressão portuguesa nas suas variantes. Farto que os interesses meramente económicos e politiqueiros das editoras ou seja lá de quem seja(que também não se percebe muito bem)deixem de ter em conta os verdadeiros interesses de Portugal e em consequência os interesses da expressão verdadeira da lingua portuguesa no mundo.

felpo disse...

O que mais me incomoda é ir descobrindo a pouco e pouco que há muito que se fazem alteração nas costas dos portugueses.
O dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, publicado pelo Circulo de Leitores em 2002, e até publicitado pelo Presidente da República (na altura o Dr. Jorge Sampaio), não tem a palavra quórum – número de indivíduos presentes necessários para o funcionamento de uma assembleia – e que é de uso corrente em Portugal; nem a palavra quota – determinada porção – em seu lugar dá o mesmo significado à palavra cota que deste modo fica a ter mais um significado (para além deste, o de peça de vestuário; citação, nota, referência à margem de um livro; diferença de nível entre qualquer ponto e aquele que se toma para referência, o lado oposto ao gume de uma ferramenta; de cotar, apreciar, avaliar). Outra palavra que desapareceu no citado dicionário é a palavra quotidiano, na qual em português de Portugal se pronuncia o u; em seu lugar, o dito dicionário, tem a palavra cotidiano. Por outro lado todo ele é invadido por palavras completamente estranhas ao nosso vocabulário (quixaba, quixexeu, quixiúna, quixucululu…) coisa que não seria inconveniente se todo o vocabulário falado em Portugal continental e insular, assim o que é falado em Cabo Verde, São Tomé, Guiné, Cabinda, Angola, Moçambique, Goa, e outras regiões na Índia, na Malásia e mais oriente como Timor, fosse por ele contemplado, coisa que não acontece.

Anónimo disse...

O que une ou divide nações não seoficializa. É bobagem o Acordo. É infantilóide, ops!, infantiloide entender UNIFICAÇÃO como nivelamento. Impossível tornar o português único. Haverá sempre "o português do Brasil" "o português de Portugal", como também dos demais países da CPLP. Como haverá sempre entre eles, dividindo-os, o Atlântico, o Carnaval, a maioria negra... Isso é simplesmente a riqueza de cada um. A feição maravilhosa de mulheres africanas jamais será a feição das brasileiras,portuguesas ou outras. Cada terra tem seu, seu e seu jeito de falar, viver, comer. Escrever é só uma conseqüência, ops!, consequência.